“Killua: um astro em ascensão”- Dom Filipe

“Killua: um astro em ascensão”- Dom Filipe

- in Curiosidades, Opinião

Por: Dom Filipe

Quando puxei a cadeira, endireitei o corpo e posicionei as mãos para começar a escrever sobre este artista que está a provocar uma autêntica febre nos apreciadores da música nacional moçambicana, tive bastante dificuldade para dar o pontapé de saída. Nunca foi fácil descrever um génio seja de que área for porque o excesso de atributos nos cega a imaginação como aspirantes a escritor.

Para me inspirar tive que voltar a rolar a música mais de duas vezes e sentir a mesma nostalgia que me avassala quando oiço “Uswete” de Kilua. Hoje não irei falar dos outros números musicais deste cantor, apesar de estar apaixonado por todas elas devido as mensagens temáticas que trazem. Neste texto me irei reter apenas a música intitulada “Uswete”.

Para quem ainda não escutou “Uswete”, trata-se de suplicio de um indivíduo que sofrera bastante com as desgraças da vida. Mesmo tentando buscar ajuda ninguém atende ao seu chamado, até por parte daqueles que cuidam das pessoas desfavorecidas. Ninguém percebe a sua língua, que atenda o seu chamado, que consiga enxergar o seu choro agonizante. Para não estragar a experiência no primeiro contacto com a música irei me reter aqui mesmo na discrição e deixo para que cada um sinta a experiência por si mesmo.

Agora, por que é que considero que o Killua, dono da música Uswete é um astro em ascensão? Se os argumentos introdutórios ainda não conseguiram lhe convencer sobre esta afirmação não sei se as linhas a seguir irão conseguir o fazer. Mas, por favor, não quero estragar a experiência da sua leitura, vamos juntos embarcar nesta viagem em torno deste astro em ascensão.

A muito se reclamava que em Moçambique há falta de números musicais com conteúdo. Já ouvimos artistas renomados como José Mucavel a dizerem que as músicas produzidas pelas gerações actuais são vazias de conteúdo, é “pimba”. Apenas para lhe situar, segundo Wikipédia, Pimba é o termo português usado para qualificar uma variedade de música popular portuguesa, e música folclórica, cujas letras frequentemente derivam de metáforas com significados sexuais ou sentimentalismos românticos simplistas. Enquanto que o Dicionário Online Priberam define pimba como sendo relativo à música de melodia fácil ou pouco elaborada, com estruturas musicais básicas e letras superficiais ou de cariz pejorativo.

Killua com os seus números musicais, principalmente com Wuswete, que até o momento considero que seja o seu cartão de visita cria alternativa para as músicas sem conteúdo que tem pululado nossos ouvidos de tempos em tempos como aconteceu no final do ano. Ouvimos musicas como “Yaba Buluko” do agrupamento Afromadjaha e “Nikombela Ku Loyiwa” do Team Sabawa que por um período de quase um mês foram uma febre e dentro de menos tempo irão ao esquecimento como se nunca tivessem existido como acontece com este tipo de música que apelam apenas a simplicidade e obscenidade. Não quero com isso ferir sensibilidades daqueles que gostam deste tipo de música que não considero que haja erro em as escutar no seu devido contexto.

Agora a música “Uswete” e artistas como Killua irão bater durante gerações. Este tipo de música interioriza e encontra espaço nos seus apreciadores de tal modo que quase que passa a fazer parte do seu DNA. Quem nunca voltou no tempo para escutar “Balada para as minhas filhas de José Mucavel” ou “Ninavela Ku Muka Kaya” da Elsa Mangue? Mas por que é que isso acontece? Porque são músicas que tocam a alma, são como um poema com estrofes harmoniosas como a arvore frondosa que proporciona a sossegada sombra em dias de calor.

Se o Killua continuar a seguir esta linha nos próximos dias não iremos escrever sobre a ascensão de uma estrela, mas sim, sobre a sua afirmação como um artista consolidado. A semente já foi lançada. Esperemos que o vicio da fama não corrói o coração deste jovem cantor que veio para nos orgulhar pela nossa cultura como acontece com muitos cantores que depois do sucesso se esquecem do chão que um dia pisarão.

Em fim, já para terminar deixo o apelo a todos para com os seus ouvidos escutar a música e experimentar seus próprios sentimentos para depois nos dizer o que achou.

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