“Niketche” é o quarto livro de Paulina Chiziane. Depois de conquistar um vasto público nacional e estrangeiro, a estória da autora moçambicana vai ganhar uma nova vida, com outras personagens, interpretadas maioritariamente por actores brasileiros.
A ideia de levar Niketche para o cinema surgiu de um director brasileiro chamado Joel Zito Araújo, muito conhecido por divulgar a importância das culturas africanas naquele país. Na verdade, Araújo está na linha da frente como director que fez um filme com o elenco todo negro: As Filhas do vento, de 2004, com participação de Taís Araújo, e que ganhou muitos prémios com esse questionamento sobre as relações África e Brasil.
Joel Zito Araújo leu Niketche e apaixonou-se pela estória. A partir daí, o artista contactou outro rosto influente no processo: Luiza Botelho Almeida, produtora e guionista, a quem coube o desenvolvimento da ideia de adaptar a literatura para as telas.
Até aqui, a equipa que trabalha no projecto já tem um trailer feito. Agora, acertam-se pormenores técnicos e relacionados com patrocínios para que, primeiro, o filme aconteça e, depois, a série televisiva.
Referindo-se a esta experiência, Luiza Botelho Almeida, que regressou ao Brasil na manhã de quinta-feira, entende que a maior responsabilidade, no trabalho todo, é a de honrar a cultura de Moçambique, e esclarece: “porque não é possível fazer a adaptação de uma obra tão importante e profunda, como Niketche, de uma autora como Paulina, e ignorar a beleza da cultura de Moçambique. Ao mesmo tempo, temos também a responsabilidade de fazer com que a obra seja extremamente popular. Esses são os dois maiores objectivos que temos. E aqui o Joel Zito traz um elenco brilhante de protagonistas e actores fabulosos no Brasil”. Botelho Almeida refere-se a Adriana Lessa (Rami), Léa Garcia (Abiba), Ery Costa (Tony), Erika Januza (Jacira), Sheron Menezzes (Inês), Juliana Alves (Julieta), Roberta Valente (Luisa) e Cristina Lago (Eva).
Enquanto o filme e a séria ainda não acontecem, a equipa envolvida na produção e realização já partilhou o trailer na internet. Em três dias, alcançaram 40 mil visualizações e inúmeros comentários, por exemplo, no Facebook. Um desses comentários pertence ao actor Lázaro Ramos (marido de Taís Araújo): “Parabéns, Joel. Muito bom. Já quero ver”, disse o actor brasileiro bem conhecido no país por via das telenovelas exibidas pela Stv.
Para Almeida, isso revela o interesse que as pessoas têm por este tipo de estórias:
“Muitos brasileiros, moçambicanos, portugueses e angolanos querem ver este filme”.
E Botelho Almeida não fica por aí:
“Achamos que este filme é um passo largo rumo à aproximação cultural entre os povos brasileiro e moçambicano, porque o livro não é só poligamia, uma estória engraçada ou que diverte as pessoas, é também, e essa é a coisa mais profunda, a realidade do lugar da mulher na sociedade, a luta da mulher, dos relacionamentos e das suas verdades”.
Como guionista, Luiza Botelho Almeida revela que sentiu necessidade de conhecer Paulina Chiziane. E, agora que a conhece, deseja conhecê-la ainda mais.
“Fiquei com um gostinho de quero mais, depois de conhecer Paulina pessoalmente”.
O espaço escolhido para rodar o filme Niketche, a rainha das rivais é Minas Gerais, uma terra com muita exploração de minas desde o tempo colonial.
“Então, acreditamos que o mineiro se parece muito com o moçambicano. O mineiro é muito aconchegante, mas, ao mesmo tempo, desconfiado. Ele é calado, observa e é muito inteligente. Não conta muito de si, faz perguntas”.
Luiza Botelho Almeida acredita que a adaptação de Niketche é relevante para o público brasileiro porque, ainda que a poligamia não faça parte da realidade daquele país, há uma outra vertente com forte relação:
“o amantismo. É comum no Brasil um homem com uma esposa e filhos em casa ter uma segunda ou terceira família, sem que saiba. Casos há em que a verdade torna-se pública depois da morte do homem, já no funeral”.
Entre a emoção e a surpresa…
Embora Paulina Chiziane saiba que é muito e bem estudada no Brasil, a ideia da adaptação do seu livro para o cinema a encontrou desprevenida.
“Foi uma surpresa boa! Quando sonhamos com alguma coisa e conseguimos concretizar a nossa pretensão, naturalmente, ficamos muitos felizes. Quando soube da iniciativa de se adaptar Niketche, perguntei-me se era do meu texto que se estava a falar. Estou muito encantada”, expressou-se Chiziane.
Quanto à relevância temática do livro, que faz com que Luiza Botelho Almeida acredite que o filme e a série Niketche, a rainha das rivais serão um sucesso no Brasil e noutros países, Paulina Chiziane esclarece: “somos diferentes como pessoas, mas todos temos um denominador comum. O homem e a mulher têm comportamentos iguais em todo o mundo. O que conto no meu livro, sobre as traições de Tony, tanto encontramos reflectido no Brasil como na China. Confesso que nunca tinha pensado que a voz de uma mulher do meu país pudesse ter tanto eco num outro continente”. Por isso, defende Paulina, o país deve celebrar esta conquista tanto quanto ela a celebra.
Fonte: O país
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