Arsénio Magul: “Artistas moçambicanos e a sua ilusão de grandeza”

Então, começo esse texto pedindo para que não leiam com raiva. Recebam-no com calma e procurem filtrar tudo de bom que aqui for escrito. Recentemente a Anna Joyce veio a Moçambique para mais uma jornada de trabalho com recurso a alguns espectáculos, chegou, brilhou, deu aula de música às nossas divas, levou o txi e bazou. Mas como sempre, começou o debate de novo sobre artistas moçambicanos e angolanos, porque os estrangeiros abarrotam as casas de espetáculos e os locais não!
Epah, esta é uma pergunta de um milhão de meticais, a qual muitos tem a resposta, mas poucos têm a coragem de responder em público. Com o risco de chamar-me nomes tais como, invejoso, pessoa que não valoriza produto local e outros pronomes nada abonatórios, a direi, 80% dos artistas não tem qualidade musical para cativar os seus ouvintes, e se enganam ao pensar que o facto de gravarem com os melhores produtores e fazerem vídeos luxuosos, os seus trabalhos são dignos de admiração geral, mas não é bem assim. Qualidade musical não se centra apenas no facto de gravar na “Friends Studios” ou mesmo na “SWB Records”, a coisa vai mais além, é preciso haver uma boa composição, tocar os teus fãs e fazê-los sentir o teu trabalho com profundidade.
Vamos dar um exemplo claro e directo, Julia Duarte, uma artista que respeito muito, e admiro-a bastante por todo o seu trajecto e os sucessos que nos habituou anos atrás.
Recentemente a artista lançou uma música acompanhada de um vídeo super top, “falo do vídeo” com a produção do Videomaker de reputado mérito, CR Boy. O ponto é, a música em si é bastante “off” para uma artista do calibre dela, composição simplória, sem contexto, direcionada a um público adolescente e sem carisma.
Não vamos tentar tapar o sol com um dedo, a música nem chega a competir com uma simples faixa do álbum da Anna Joyce, uma vergonha total para uma artista com anos de estrada, e sucessos como a JD.
Este é o problema aqui neste país, ninguém gosta de ser sincero, o director artístico ouviu a música e aprovou, sem ao menos analisar a mensagem, o calibre da artista e o muito menos o nível contextual dos problemas que envolvem o público que a JD deveria, supostamente direcionar as suas músicas.
Este é um ponto que alguns artistas moçambicanos têm falhado bastante, fazem músicas com os melhores produtores e compositores, vídeos onde gastam-se rios de dinheiro, mas que não tem nada de especial, não tem conteúdo, não tem vibe, não tem história, é apenas uma mistura de vozes bonitas e instrumentais boas.
Os que fazem acontecer, tem boas composições, boa vibe e instrumental no ponto, estão aí, a abarrotar espectáculos, fazer sucesso, e a viajar sempre, Cleyton David,
Tamirys Moyane, Blaze e muitos outros. Porém, estes são uma excepção, em meio a artistas medíocres e sem amor pelo que fazem. Guys, procurem novas sonoridades, novos compositores, novos estúdios. Há muito talento escondido por aí, há muitos produtores e compositores à espera de uma oportunidade para brilhar, não se tranquem no mundo dos produtores pop stars, alguns deles já esgotaram a sua criatividade!
Se quiserem alcançar o tão sonhado sucesso “abarrotar os campos e casas locais”, tragam sons que toquem o moçambicano, criem novas Vibes, investiguem, procurem compositores novos, e até se possível, se tranquem no estúdio por um tempo, mas por favor, parem de lançar músicas medíocres.